Voltamos a este tema face às dúvidas que nos têm sido colocadas sobre as "muxamas" de atum.
Esta é uma das formas mais comuns de conservar,
tradicionalmente, uma das partes mais nobres dos atuns que atravessavam as
águas do Algarve, para o Mediterrâneo, nas suas rotas migratórias em demanda dos
seus lugares de reprodução, e posteriormente de regresso ao Atlântico, após o
solstício de Verão. Essa referida parte do atum, é o seu lombo que desde tempos
imemoriais é seccionado em tiras longitudinais, as quais são curadas no Sal Tal
Qual, este directamente recolhido nas salinas, elas em si também exploradas de
forma tradicional.
Albacora (Thunnus albacares), com o lombo assinalado
A “muxama” é pois um produto preparado com o mesmo método que
fenícios e romanos utilizavam há mais de dois mil anos. O termo provém da
palavra árabe “musama”, que significa “seco”, sendo que já no período da
ocupação islâmica este modo de preparação do atum era muito utilizado, e assim
foi legado ao período cristão subsequente.
Lombo
de atum a ser preparado
“Muxamas” no processo de cura
As muxamas eram preparadas a partir de Atuns Vermelhos,
Bluefins ou Rabilhos (Thunnus tynnus),
que eram os atuns que atravessavam em maior número as nossas àguas (do
Continente, entre os equinócios, da Primavera e do Outono). Apareciam também,
nos grandes cardumes de Rabilhos, alguns Patudos (Thunnus obesus) e Albacoras (Thunnus
albacares).
Os Atuns Rabilhos eram pois a base da alimentação dos
Algarvios, em particular os do Sotavento e do litoral. Neste sentido dizia-se
que o atum era gastronomicamente para os Algarvios, como o porco era para os
Alentejanos, e de facto era, pois aproveitavam-se desta espécie todas as suas partes,
desde as peles, vísceras, espinhaços e orelhas, até aos bifes e às “muxamas”.
Troço de “muxama”
de atum já pronta
“ Muxama” de atum já laminada
Estas pela sua cor, textura e sabor, eram mesmo conhecidas
como sendo o “presunto do mar”, designação esta que ainda hoje perdura.
Hoje em dia, face ao elevadíssimo valor de mercado dos Atuns
Vermelhos, Bluefins ou Rabilhos (Thunnus
tynnus), as “muxamas” passaram a ser preparadas a partir de Albacoras (Thunnus albacares), muitas delas
importadas.
Nota: A designação em língua
portuguesa pode ser “muxama”, ou “moxama”, as duas formas são passíveis de ser
utilizadas, embora em espanhol se designe “mojama”, seguimos e adoptámos a
etimologia da palavra, ou seja do árabe “musama” (seco).
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